Este jornal deu em manchete: em Minas há cerca de 31.500 pedidos de proteção à vida de mulheres ameaçadas pelos homens e 46 mil pedidos aguardando julgamento. No resto do país não é diferente. Horror dos horrores! E a gente (com superioridade) falando do Oriente Médio e de apedrejamentos longínquos.
Há quase 30 anos, a partir do assassinato de mulheres mineiras como Jo Lobato e Angela Diniz, escrevi o ensaio “Morte violenta de mulheres: somos todos assassinos”(Politica e paixão, Editora Rocco). O marido da primeira foi absolvido, o assassino da segunda cumpriu meia pena, está solto, casou várias vezes.
Aquele artigo (no JB) teve certa repercussão. Klauss Viana abria um espetáculo de dança no Teatro João Caetano com uma de minhas frases: “Quando uma virgem morre, diz Bilac, uma estrela no céu aparece. E quando uma mulher casada em Minas é assassinada, o que acontece?”. Na ocasião escrevi também um longo poema “Mulher” e não sei quantas crônicas sobre outros casos – como daquele nordestino que mandou gravar no rosto da mulher, com ferro quente, as letras MGSM (Mulher Gaieira sem Vergonha). Neste caso, apareceu um médico para fazer a plástica no rosto de Maria Lúcia. Mas nenhuma plástica consegue apagar essas coisas.
Acho que, se vivesse mais 30 anos, ia escrever não sei quantos poemas, crônicas e ensaios sobre esse assunto, sem que visse a coisa se modificar. Começo a pensar mais objetivamente, mais biológica e clinicamente. Vamos por partes:
– É evidente que existe uma cultura machista que fermenta essas tragédias;
– É evidente que existe a impunidade que alimenta essas tragédias.
Existe outro fator intrigante: a ferocidade tipicamente masculina, esse turbilhão de hormônios assassinos. A guerra é a prova universal da perversidade masculina.
Pode-se argumentar: nem todos os homens são assassinos.
Ainda bem.
Mas vejam: vocês já notaram os jovens machos na praia ou piscina atirando a namorada ou irmã dentro d’água? É uma brincadeira, dizem. É um sintoma, digo: um exercício de força e domínio.
Esses machos assassinos têm uma patologia, um desvio no cérebro. A domesticação da cultura não eliminou neles esse traço animal, instintivo. A rigor, deveriam ser detectados e tratados patologicamente como os pedófilos e estupradores. Alguns amigos acham que os estupradores deveriam ser castrados. Seria uma pena, digamos, “capital” e exemplar. Mas pedófilos, estupradores e assassinos de mulheres não podem ser tratados apenas judicialmente. Basta um advogado cínico e competente para absolvê-los.
Tem uma sinapse qualquer na cabeça desse tipo de assassino que funciona diferentemente das outras. São raros os casos do marido que se mata depois de matar a esposa. O ideal, já que a medicina não tem como prevenir isso, é que o futuro assassino se matasse primeiro. Ao se eliminar, pouparia a companheira e eliminaria em si o seu problema e um problema social.
É cruel, bem sei. Mas menos cruel do que o que se vê. E exercitando, em legítima defesa, tal crueldade, afirmo: talvez devesse existir um slogan: “Mate-se antes de matar o outro”.
É possível que a medicina preventiva um dia possa alterar, ainda no útero, nossa violência desgovernada. Não estão alterando os genes dos legumes e animais? Não fazem o “recall” de automóveis e máquinas que saíram da fábrica com desfeito?
Sejamos mais modestos. Deus, ou que nome se lhe dê, tinha as melhores intenções. Mas em qualquer experimento sempre há o acaso e os desvios.
Há quem diga que o homem é uma experiência que não deu certo. Prefiro dizer que o ser humano é uma experiência que pode ser, genética e socialmente, melhorada.
Há quase 30 anos, a partir do assassinato de mulheres mineiras como Jo Lobato e Angela Diniz, escrevi o ensaio “Morte violenta de mulheres: somos todos assassinos”(Politica e paixão, Editora Rocco). O marido da primeira foi absolvido, o assassino da segunda cumpriu meia pena, está solto, casou várias vezes.
Aquele artigo (no JB) teve certa repercussão. Klauss Viana abria um espetáculo de dança no Teatro João Caetano com uma de minhas frases: “Quando uma virgem morre, diz Bilac, uma estrela no céu aparece. E quando uma mulher casada em Minas é assassinada, o que acontece?”. Na ocasião escrevi também um longo poema “Mulher” e não sei quantas crônicas sobre outros casos – como daquele nordestino que mandou gravar no rosto da mulher, com ferro quente, as letras MGSM (Mulher Gaieira sem Vergonha). Neste caso, apareceu um médico para fazer a plástica no rosto de Maria Lúcia. Mas nenhuma plástica consegue apagar essas coisas.
Acho que, se vivesse mais 30 anos, ia escrever não sei quantos poemas, crônicas e ensaios sobre esse assunto, sem que visse a coisa se modificar. Começo a pensar mais objetivamente, mais biológica e clinicamente. Vamos por partes:
– É evidente que existe uma cultura machista que fermenta essas tragédias;
– É evidente que existe a impunidade que alimenta essas tragédias.
Existe outro fator intrigante: a ferocidade tipicamente masculina, esse turbilhão de hormônios assassinos. A guerra é a prova universal da perversidade masculina.
Pode-se argumentar: nem todos os homens são assassinos.
Ainda bem.
Mas vejam: vocês já notaram os jovens machos na praia ou piscina atirando a namorada ou irmã dentro d’água? É uma brincadeira, dizem. É um sintoma, digo: um exercício de força e domínio.
Esses machos assassinos têm uma patologia, um desvio no cérebro. A domesticação da cultura não eliminou neles esse traço animal, instintivo. A rigor, deveriam ser detectados e tratados patologicamente como os pedófilos e estupradores. Alguns amigos acham que os estupradores deveriam ser castrados. Seria uma pena, digamos, “capital” e exemplar. Mas pedófilos, estupradores e assassinos de mulheres não podem ser tratados apenas judicialmente. Basta um advogado cínico e competente para absolvê-los.
Tem uma sinapse qualquer na cabeça desse tipo de assassino que funciona diferentemente das outras. São raros os casos do marido que se mata depois de matar a esposa. O ideal, já que a medicina não tem como prevenir isso, é que o futuro assassino se matasse primeiro. Ao se eliminar, pouparia a companheira e eliminaria em si o seu problema e um problema social.
É cruel, bem sei. Mas menos cruel do que o que se vê. E exercitando, em legítima defesa, tal crueldade, afirmo: talvez devesse existir um slogan: “Mate-se antes de matar o outro”.
É possível que a medicina preventiva um dia possa alterar, ainda no útero, nossa violência desgovernada. Não estão alterando os genes dos legumes e animais? Não fazem o “recall” de automóveis e máquinas que saíram da fábrica com desfeito?
Sejamos mais modestos. Deus, ou que nome se lhe dê, tinha as melhores intenções. Mas em qualquer experimento sempre há o acaso e os desvios.
Há quem diga que o homem é uma experiência que não deu certo. Prefiro dizer que o ser humano é uma experiência que pode ser, genética e socialmente, melhorada.
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